segunda-feira, 21 de abril de 2014
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Alimentos 0 km, além do marketing
Saúde
10/4/2014 - 11h12
10/4/2014 - 11h12
Alimentos 0 km, além do marketing
por Esther Vivas*
Falar de produto 0 km está na moda. O movimento Slow Food começou a promover este conceito nos anos 1990 em defesa de uma alimentação local, saudável e de qualidade. O que chamam de comida “boa, limpa e justa”, em oposição à comida “fast food”. No entanto, agora, inclusive bancos como o Catalunyacaixa promovem seus serviços com este lema: “Banco 0 km, banco de proximidade”. O local, e mais ainda num contexto de crise, vende. Mas, o que queremos dizer quando falamos de 0 km? Trata-se de uma moda, de uma marca ou de uma aposta na mudança?
O pessoal do Slow Food tem isso claro. Promover os alimentos 0 km implica em apoiar uma agricultura local, de proximidade, ecológica, de estação, camponesa, resgatar variedades antigas que estão desaparecendo, comprar diretamente do pequeno produtor, recuperar a nossa gastronomia. Uma cozinha na qual não há lugar para os transgênicos ou para aqueles cultivos que contaminam o meio ambiente e a nossa saúde. Uma alimentação que defende produzir, distribuir e consumir à margem da agroindústria e dos supermercados. Comer bem, em suma, em benefício da maioria, seja no campo ou na cidade.
Uma proposta que pegou. Tanto que alguns a utilizam inclusive como mero instrumento de marketing, esvaziando-a de conteúdo, com o único objetivo de vender mais. O Catalunyacaixa é o expoente máximo. Não tem vergonha em definir-se, na Catalunha, como “banco 0 km”, e acrescenta “trabalhando aqui e para as pessoas daqui”. Embora dissesse melhor: “enganar e trapacear aqui e para as pessoas daqui”. Os supermercados não ficam de fora. Agora, o Carrefour, Mercadona, Alcampo, Eroski, El Corte Inglés dizem apostar no local. Esquecem, no entanto, que suas práticas, precisamente, acabaram com o comércio, o emprego e a agricultura locais.
Em tempos de crise, a alimentação com bandeira vende. Consumo nacional e alta qualidade. Na França, há anos, a extrema direita reclama o “Made in France”, isso sim, sangue puro. Antes, o Partido Comunista francês abraçava esta consigna. Nos Estados Unidos, os conservadores, nos anos 1990, fizeram campanha com a consigna “Buy American” contra o Tratado de Livre Comércio da América do Norte. E aqui, agora, alardeia-se o “Hecho en España”. Primeiro o de casa. Exigir local, ao contrário, nada tem a ver com uma questão de bandeiras, mas de justiça. O leitmotiv do 0 km encontra-se nas antípodas do que defendem os que levantam estandartes.
Trata-se de promover uma produção e um consumo de proximidade com o imprescindível olhar da soberania alimentar, devolvendo a capacidade de decidir das pessoas, apostando em um mundo rural vivo, com total respeito à “Mãe Terra” e em aliança e solidariedade com os outros povos. O contrário dos chovinismos e racismos. Nada a ver com o agronegócio e o poder financeiro. Apenas dessa maneira a defesa do local faz sentido.
* Tradução de espanhol para português de André Langer para Ihu.unisinos.br.
* Publicado originalmente no jornal espanhol Público e retirado do site Adital
FONTE;http://envolverde.com.br/saude/alimentos-0-km-alem-marketing/ .
Superbactérias: os riscos de uma crise global
Superbactérias: os riscos de uma crise global
por Martin Khor*
Banalização do uso de antibióticos e impasses na pesquisa de fármacos suscitam espectro de epidemias incontroláveis. Há alternativas, mas é preciso agir já
Um número crescente de doenças tem sido afetado pela resistência, um fenômeno que se dá quando as bactérias não podem ser mortas, mesmo quando distintos medicamentos são ministrados a alguns pacientes, que sucumbem. Isso gera a perspectiva sombria de um futuro em que os antibióticos já não funcionam e muitos de nós, ou de nossos filhos, não vão mais resistir a doenças como tuberculose, cólera, formas mortais de desinteria e germes contraídos durante cirurgias.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai discutir o tema em maio, em sua assembleia anual de ministros da saúde. A agende inclui o debate de um plano global de ação contra a resistência microbiana. Em momentos anteriores, houve diversas resoluções a respeito, mas pouca ação. Este ano, pode ser diferente, porque países como o Reino Unido estão convencidos de que anos de inatividade tornaram o problema cada vez mais grave.
A Chatham House, uma organização internacional sediada no Reino Unido, foi local de duas reuniões recentes a respeito: uma em outubro e outra no mês passado (co-organizada pelo Geneva Graduate Institute). Ambas foram presididas pela Diretora Geral da Saúde da Inglaterra, a professora Dame Sally Davies, que transformou a resistência a antibióticos em uma campanha emergente. Em um livro recente, The Drugs Don’t Work (“Os remédios não funcionam”), ela revelou que seu relatório anual sobre saúde focou-se, em 2012, em doenças infecciosas.
“Nossas descobertas são simples: estamos perdendo a batalha contra doenças infecciosas. As bactérias estão reagindo e tornando-se resistentes à medicina moderna. Para resumir: os remédios não funcionam.” Davies lembrou que os antibióticos adicionaram em média vinte anos à expectativa de vida dos seres humanos e que, por mais de setenta anos, eles nos permitiram sobreviver a infecções e cirurgias que ameaçavam nossa vida. Contudo, “a verdade é que temos abusado deles como pacientes, médicos, viajantes e em nossa comida”, diz ela em seu livro.
Davies prossegue: “Nenhuma classe de antibióticos foi descoberta nos últimos 26 anos e os micróbios estão contra-atacando. Em poucas décadas, poderemos começar a morrer por cirurgias mais comuns e por doenças que hoje podem ser tratadas facilmente.”
Nas duas reuniões da Chatham House, às quais compareci, diferentes aspectos da crise e das possíveis ações foram discutidas. Em uma das sessões, fiz um sumário das ações necessárias, incluindo:
> Mais pesquisa científica sobre como a resistência é causada e se espalha, incluindo a emergência de genes resistentes a antibióticos como no caso do NDM-1 [cuja ação é explicada mais adiante].
> Pesquisas em todos os países para determinar os níveis da resistência a atibióticos e bactérias que causam várias doenças.
> Diretrizes e regulações de saúde em todos os países para orientar os médicos sobre quando (e quando não) prescrever antibióticos.
> Regulamentações para indústrias de drogas sobre marketing ético de seus remédios, para evitar que promoções de venda dirigidas a médicos ou ao público levem a um uso elevado e desnecessário.
> Educar o público a usar antibióticos apropriadamente, incluindo informações sobre quando eles não devem ser usados.
> Banir o uso de antibióticos na alimentação animal (com o propósito de obter crescimento acelerado). Restringir o uso em animais apenas para doenças de risco.
> Promover o desenvolvimento de novos antibióticos e criar mecanismos (inclusive financeiras) que não tornem as novas drogas propriedade exclusiva das indústrias farmacêuticas.
> Assegurar que pessoas pobres também tenham acesso aos novos remédios.
Quanto ao primeiro ponto, um fato novo e alarmante foi a descoberta de um gene, conhecido como NDM-1, que tem a habilidade de alterar a bactéria e fazê-la altamente resistente a qualquer droga conhecida.
Em 2010, só se localizou a presença do gene NDM-1 (detectado em 2006) em dois tipos de bactérias — E. coli e pneumonia Klebsiella. Mas descobriu-se que este gene pode facilmente saltar de uma espécie de bactéria para o outro. Em maio de 2011, cientistas da Universidade de Cardiff (Reino Unido), que fizeram os primeiros relatos sobre a existência da NDM-1, descobriram que este gene se espalhou para vinte espécies de bactérias.
Também em maio de 2011, houve um surto de uma doença mortal, causada por uma nova cepa da bactéria E. coli, que matou mais de vinte pessoas e afetou outras duas mil na Alemanha. Apesar de a E. coli “normal” produzir doenças suaves de estômago, este novo tipo causa diarreia com sangue e dores de estômago severas. Em casos mais sérios, atinge as células sanguíneas e os rins.
A tubercolose é outra doença que esta retornando de forma agravada. Em 2011, a Organização Mundial de Saúde (OMS) descobriu que meio milhão de novos casos no mundo eram do tipo resistente a múltiplas drogas (MDR-TB), significando que não poderiam ser tratados pela maior parte dos remédios. Além disso, em torno de 9% das tuberculoses resistentes a drogas múltiplas também têm resistência a duas outras classes de remédios. São conhecidas como tuberculoses extensivamente resistente a drogas (XDR-TB). Pacientes com XDR-TB não podem ser tratados com sucesso.
Pesquisadores também descobriram que, no sudeste da Ásia, cepas de malária estão se tornando resistentes a tratamentos. Em 2012, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan alertou que todos os antibióticos já produzidos até hoje estão correndo risco de tornarem-se inúteis.
A Assembleia Mundial de Saúde, convocada para o próximo mês é uma oportunidade que não pode ser perdida para finalmente lançar um plano de ação global para resolver esta crise.
* Martin Khor é diretor executivo do South Centre, uma organização intergovernamental de países em desenvolvimento, com sede em Genebra. É jornalista, economista e antigo diretor da Third World Network. É ativo nos movimentos da sociedade civil./ Tradução: Gabriela Leite.
terça-feira, 8 de abril de 2014
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